hi_key_rho_b   Este ano chorei pouquíssimo. Tive episódios dolorosos que não foram chorados. Se eu contar na mão, sobrarão dedos quantas vezes expus em lágrimas a dor nos últimos tempos. Acho que, de certa maneira, endureci. E não é exatamente um orgulho. também não me envergonha a dureza. Teria vergonha se eu fosse o tipo “ mulherzinha” refugiada no choro pra tudo. Valorizo demais minhas lágrimas. Por isso elas rolam pouco. Rolam bem mais nas minhas alegrias que nas tristezas.

                          Quando meu analista pergunta como me sinto em relação a alguns fatos e enfatiza a necessidade de chorá-los para os expurgar da minha vida, discordo. Quando choro por algo é porque realmente dou valor a isso. Se não chorá-lo, resigno-o à irrelevância. Passou e não mudou meu rumo. Eu fiz o que tinha de fazer e pronto. Nem mais nem menos. Sou a personificação da mulher culpa zero tão aclamada por Martha Medeiros.

                               Concordo, devo chorar um pouco mais mesmo. Tudo para evitar o câncer. Mas prefiro desabafar aqui, na tela branca. Pelo menos, é produtivo. Tenho progredido, segundo meu analista, chorei duas vezes nas últimas semanas. Choro a lá mme. Barievillo: silencioso e a sós. Foi libertador largar. Pôr pra fora. Normalmente, quando o choro vem, eu cerro a mandíbula com força, respiro fundo, e, enquanto faço movimentos circulares entre as sobrancelhas com o dedo indicador, digo em voz alta pra mim: só há duas opções na vida: ser forte ou ser ninguém. E você não veio até aqui pra desabar agora, dona Bruna!

                              Associei o choro à fraqueza. A fraqueza que eu não quero em mim. “Fruta que amadureceu no chão” como escreveu Carpinejar.  

                                      Minha mais nova missão: a esta altura do campeonato, reaprender a chorar. Achar o caminho do meio e dissociar o choro do fracasso. Encará-lo como uma pausa. Difícil ao meu temperamento de quem leva tudo a diante, atropelando o que aparecer pela frente. Sem alguns  pedaços, às vezes, mas sempre chego ao final. Pausa? –Estranho. Vamos tentar.

                         P.S.: que meu analista não me ouça, mas ainda prefiro chorar de alegria. Aquela alegria imensa, que te toma inteira e só pode ser expressa, se além do sorriso imenso, houver olhos marejados! Como quando enxergo minha mãe, depois de meses sem vê-la. Impossível não chorar. Aí  me entrego. Sem ressalvas. Estou em casa.